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A Controladoria em Instituições Financeiras: Escopo e Atribuições

  • Foto do escritor: José Assis
    José Assis
  • 28 de mar. de 2023
  • 6 min de leitura

A geração de informações é, decerto, um fator crítico ao sucesso empresarial das instituições financeiras. Em um segmento conhecidamente complexo, diverso e competitivo, a unidade organizacional Controladoria ganhou espaço de destaque no exercício de compreensão e monitoramento das informações financeiras.


Embora suas estruturas e práticas não sejam similares ou genéricas, na prática, não há consenso sobre suas atribuições. Devido à abrangência da área de atuação e à sua visão multidisciplinar, encontrar uma definição íntegra e plena à Controladoria tornou-se tarefa árdua.


Crepaldi (2004) defende que a Controladoria eficiente é capaz de influenciar e contribuir para a decisão de seus gestores, de fornecer informações e dados relevantes às decisões, de monitorar as atividades e os desempenhos dos departamentos, e motivar os funcionários a produzirem resultados melhores.


Giongo e Bianchi (2005) evidenciam que a Controladoria deve contribuir para o planejamento estratégico da empresa, disponibilizar informações que auxiliem o processo de gestão da organização, bem como efetuar o acompanhamento, controle e avaliação do desempenho da instituição, contribuindo para a superação dos obstáculos do cotidiano empresarial e propiciando crescimento das organizações no atendimento das necessidades de seus clientes.


Padoveze (2009) declara que a Controladoria tem como função principal oferecer suporte à gestão de negócios da empresa, facilitando o alcance de seus objetivos previamente estabelecidos. São da responsabilidade da Controladoria, portanto, controlar, informar e influenciar a fim de garantir a eficácia empresarial, tornando o planejamento concreto.


Santos (2005) avaliou comparativamente a Controladoria enquanto ciência e o modelo encontrado no Banco do Brasil S.A., com vistas a propor um modelo simplificado aplicável às instituições financeiras. O autor esclarece que a Controladoria exerce grande influência na organização empresarial, e não há um único modelo de aplicação nas organizações, em especial nas instituições financeiras, tendo em vista a complexidade de suas decisões.


Cruz (2009) comenta que a produção científica sobre Controladoria, no Brasil, apresenta vasta diversidade de conceitos. No tocante à questão das divergências da compreensão desta unidade nas finanças em bancos, alguns autores discutem custos, planejamento e controles internos, sem exibir, de fato, os conceitos e funções da Controladoria.


Isto posto, no universo das instituições financeiras, verifica-se que as orientações e estruturas da Controladoria obedecem, no geral, ao modelo, porte, visão e cultura do negócio. Considerando os autores e definições aqui apresentados, além de demais referências não mencionadas, entende-se que as atribuições da Controladoria exibem propósitos similares. Alicerçado em minha própria experiência profissional, bem como em minhas anotações de encontros promovidos para debates acerca do papel da área, elenco, a seguir, sujeito a questionamentos, as atribuições e responsabilidades da unidade Controladoria nas instituições financeiras:


1. Administração do SIG (sistema de informações gerenciais) ou MIS (management information system)

  • Definição da base de dados e integrações internas no SIG em conjunto com a Tecnologia da Informação.

  • Especificação dos critérios de cálculos, conceitos das informações e modelos de reportes a serem implantados no SIG.

  • Preparação das informações para a conciliações junto à Contabilidade.


2. Disponibilização de informações gerenciais dos negócios aos executivos

  • Geração de informações dos negócios aos executivos das unidades comerciais e das áreas de produtos para todos os níveis hierárquicos.

  • Geração de informações das operações, exposições e fluxos na gestão dos ativos e passivos (ALM – assets/liabilities management) e Tesouraria.

  • Geração de informações corporativas para comitês e alta administração.


3. Apuração dos resultados gerenciais e avaliação de performance

  • Geração de informações da margem gerencial dos negócios (financeira e serviços) aos executivos e administração.

  • Geração de informações da margem financeira gerencial – realizada e a realizar – nos livros banking/trading e no capital próprio.

  • Geração de informações de custos administrativos a partir de modelo interno de rateio das despesas administrativas.

  • Disponibilização das informações da composição do resultado gerencial das unidades, produtos e clientes.


4. Base de informações para Planejamento e Comitê Executivo

  • Geração de base histórica dos negócios e resultados gerenciais para o Planejamento e outras áreas.

  • Montagem de informações consolidadas para avaliação interna dos negócios, resultados e indicadores aos comitês executivos.

  • Fornecimento da composição dos resultados para avaliação de performance e monitoramento do cumprimento das metas.


Como visto, o escopo da Controladoria em instituições financeiras pode ser segregado em quatro macro funções. A primeira função consiste na estruturação e manutenção de um SIG (sistema de informações gerenciais) ou MIS, em conjunto com a área de Tecnologia da Informação, voltado ao controle das operações e apuração dos resultados gerenciais dos negócios. Um sistema gerencial, inserido no conceito do business intelligence para a governança corporativa, parte da existência de ferramentas de extração de dados das transações e eventos, transformando-os em informações gerenciais, a serem utilizadas nos processos de análises e suporte para a tomada de decisões. Por trás de uma informação de qualidade para a gestão, há um sistema de informações gerenciais íntegro e bem estruturado.


A segunda função está relacionada ao fluxo de informações dos negócios, geradas para a tomada de decisão dos gestores, em uma ferramenta interna (como um portal ou plataformas próprias). A modelagem das informações deve atender aos quesitos de simplicidade, objetividade, praticidade e transparência, buscando retratar a realidade dos negócios em cada unidade.


A terceira função refere-se à apuração e disponibilização dos resultados gerados nos negócios, visando a avaliação da performance dos executivos das unidades, produtos e clientes, de modo a assegurar a eficácia empresarial nos diferentes segmentos de negócios. Por fim, a quarta função consiste no fornecimento de informações a unidades internas, como base de dados para elaboração de plano de negócios, orçamento, análise corporativa, entre outras aplicações.


Considerando que a administração deve compreender os fatores originadores dos resultados da instituição em todas as suas dimensões, reconhece-se que a Controladoria tem um papel fundamental em dar respostas a diversas indagações no campo das finanças nas instituições financeiras — dentre elas, “quais unidades e canais de vendas são mais rentáveis e quais produtos devemos promover ou desativar?”; “estamos fornecendo as informações consistentes da margem financeira nos segmentos comerciais e da performance dos executivos?”; “conseguimos segregar a margem financeira da instituição (NII - net interest income) entre a margem dos negócios, margem dos descasamentos no banking, margem das posições de mercado no trading e margem corporativa de capital?”; entre outras. Enfim, questões desafiadoras na Controladoria, a serem alinhadas ao modelo de negócios da instituição financeira.


Os profissionais da Controladoria necessitam ter o conhecimento geral das estruturas e dos negócios da instituição, permeando os conceitos básicos de contabilidade, tributário, produtos bancários, mercado financeiro, precificações, entre outros. Adicionalmente, esses profissionais devem ter a capacitação de análise crítica dos negócios, bom relacionamento com outras áreas dentro das finanças e visão ampla dos sistemas e processos internos. Não por acaso, sua qualificação e capacitação devem ser atualizadas constantemente. Em suma, os profissionais da Controladoria necessitam da integração sistêmica e da capacidade de interagir com as demais áreas da instituição, tais como Planejamento, Contabilidade, Tributário, Tecnologia, Produtos, de tal forma em que elas atinjam, em conjunto, o objetivo principal da tomada decisões empresariais. Os demonstrativos contábeis apresentam uma visão externa da instituição financeira e o modelo gerencial na Controladoria permite aos gestores ter uma visão interna e minuciosa, com a capacidade de enxergar um real problema que pode não ser visível na ausência de uma “lupa de longo alcance”.


As unidades organizacionais Controladoria e Planejamento devem ter ampla sinergia e conexão entre si, onde a primeira tem a visão retrospectiva com grande detalhamento dos negócios e a segunda tem uma visão prospectiva alinhada com a estratégia, seja com as metas e ações para o futuro imediato e seja no longo prazo. Contudo, de nada adianta possuir objetivos estratégicos se não houver um modelo gerencial capaz de mobilizar energias e adquirir conhecimentos dos negócios na busca da eficácia empresarial.


A Controladoria deve garantir a geração de informações adequadas ao processo decisório, bem como colaborar com os gestores em seus esforços de obtenção da eficácia de suas áreas quanto ao atingimento de seus objetivos. Dessa forma, a Controladoria, bem como as informações por ela disponibilizadas, ganha, cada vez mais, um maior espaço e importância nas estruturas das unidades de gestão das finanças em instituições financeiras.


 

(*) José do Socorro Assis, economista, pós-graduado em finanças, mestre em administração pela PUC-SP, atuou nas áreas de Planejamento, Controladoria e Riscos no Unibanco, Fibra e Pine. Atualmente é instrutor e consultor (www.sentier.com.br/)


REFERÊNCIAS

  • CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade Gerencial: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2004.

  • CRUZ, Bleise Rafale da. A prática da Controladoria nos maiores bancos que operam no Brasil à luz de uma estrutura conceitual básica de Controladoria. Dissertação de Mestrado em Ciências Contábeis, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, São Paulo, 2009.

  • GIONGO, Juliano; BIANCHI, Márcia. A Participação da Controladoria no Processo de Gestão Organizacional. In: Encontro anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração – ENAMPAD, 2005, Brasília-DF.

  • PADOVEZE, Clóvis Luís. Sistemas de Informações Contábeis: Fundamentos e Análises. São Paulo: Atlas, 2009

  • SANTOS, Antônio Carlos Seibert dos. Controladoria no Banco do Brasil S.A: Uma Contribuição ao Estudo da Controladoria em Instituições Financeiras. Dissertação de Mestrado em Economia, Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Porto Alegre, 2005.

 
 

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